quinta-feira, 25 de outubro de 2007

O Coma Criativo - Parte III de IV

Tentativa e erro

Estar dentro da minha cabeça por tanto tempo, é saber onde estou, por um lado, e estar completamente perdido, por outro.
Não posso deixar de ressaltar que tento diariamente sair daqui de dentro, contudo é muito difícil.
Olho para trás e vejo que um ano se passou, não sei mais por onde entrei e não sei como sair.

Os meus passos, pisando num chão molhado, cheio de goteiras, com formas grotescas, deixam minha mente nublada. Não vejo mais o mundo como via antes. Não lembro mais do que lembrava antes. Está tudo distorcido e acinzentado.

As coisas perderam as formas.
As cores, com suas infinitas possibilidades, deixaram de ser belas.

As cores foram reduzidas a apenas três: azul, vermelho e preto.
Todas benéficas, todas maléficas.

As tentativas são árduas.
Repletas de altos e baixos.

Tentativa e erro...
Tentativa e erro...
Tentativa e erro...
Tentativa e erro...
Tentativa e erro...
Tentativa e erro...
Tentativa e erro...
Tentativa e erro...
Tentativa e erro...
Tentativa e erro...
Tentativa e erro...
Tentativa e erro...
Tentativa e erro...
Tentativa e erro...



Não sei mais quando estou dormindo, nem sei mais quando estou acordado.

Talvez esse seja o objetivo: atingir um entorpecimento total, onde os problemas sejam esquecidos, onde a vida seja vivida num estado de letargia eterno.
Fecho os olhos e durmo mais um pouco.

sábado, 13 de outubro de 2007

O Coma Criativo - Parte II de IV

Estudos de Medicina

Sei que a resposta a ser procurada não será facilmente encontrada.

“Por que minha Mente parou de funcionar?”

A solução mais imediata é clínica. Entro em uma sala, que mais parece um laboratório de dissecação de cadáveres do fim do século XIX.

Apesar das paredes brancas, não consigo enxergar muita coisa. É tudo como um sonho ruim. O pé direito é enorme, quase infinito. O cheiro de formol é insuportável. Circuitos emaranhados com nervos cerebrais prendem vários diagnósticos na parede. Através da lógica, deixo de lado alguma radiografia da mão ou do joelho, ou algum exame de sangue de quando eu tinha 15 anos. Não é preciso ser “doutor” para saber que esse não é o motivo do meu estado de coma criativo.

Num canto específico da sala está escrito com letras garrafais: CÉREBRO. Acendo um interruptor e vejo minha própria mente em funcionamento.



Ao lado um monitor que não mostra nenhum diagnóstico preocupante:
Eletroencefalograma, OK!
Tomografia, OK!
Exame Psicotécnico, OK!

Porém, por que então eu não me sinto normal? Por que minha mente trabalha de um modo cada vez mais obscuro?

Tudo seria mais fácil se eu estivesse no fim do século XIX. Seria só medir o tamanho do meu crânio. Dependendo das medidas viria o diagnóstico: “maníaco esquizofrênico. Incapaz de viver em sociedade”. O grande problema seriam os choques elétricos...

Contudo, estamos no século XXI, clinicamente está tudo normal, só que não vejo o mundo como as outras pessoas. Tudo é passível de questionamento. Nada me agrada. Tudo está na hora errada e na posição errada. Serão as pessoas normais e eu o louco da história? Se for levar para o lado quantitativo sim, já que sinto ser minoria. Uma minoria pensante (?) que só queria uma boa noite de sono...

Não encontrei nada do que procurava por aqui, a solução é continuar caminhando. Buscando uma resposta. Desligo o interruptor e há um pequeno curto-circuito. Meu cérebro simplesmente queima, tal como uma forte dor de cabeça.



Devo ter apertado o botão errado.
Depois alguém conserta isso pra mim...