segunda-feira, 12 de novembro de 2007

O Coma Criativo - Parte Parte IV de IV (Final?)

A solução provisório-permanente

Ainda sentindo um oco na mente, um vazio no peito, uma ausência de sentimentos felizes, entro na última porta. Descubro rapidamente que ela representa a entrada e a saída ao mesmo tempo. Pisco os olhos e não acredito no que estou vendo. É uma enorme sala de projeção com várias telas. Ao mesmo tempo, vejo grande parte da minha vida ao vivo, das minhas lembranças.

É um turbilhão de imagens quem nem sempre me fazem bem, mas não consigo deixar de olhar. Deixar de sentir.

Pessoas que eu queria ao meu lado eternamente que não estão mais aqui.

Pessoas que não deveriam habitar o planeta Terra e que, infelizmente, continuam entre os seres humanos.

Choro com tudo o que vejo.
Vejo imagens de infância, perdidas, esquecidas.
Vejo imagens de adolescência, menos remotas e talvez mais melancólicas.
Vejo o mundo atual, transtornado, desfigurado.

Por que eu não consigo esquecer certas coisas e certas pessoas?

Por que uma mesma projeção continua e continua e continua?

É como ver um filme novo e, ao piscar os olhos, aparecer a mesma imagem que deveria ter sumido há pelo menos oito meses atrás. É um fotograma entre os vinte e quatro quadros, que passa em menos de um segundo, mas que incomoda o olhar. Que mexe com a cabeça totalmente. Quase uma mensagem subliminar.

O fato de ser uma projeção me dá uma pista da solução.

Não tenho como fugir de certas lembranças, por isso vou as assistindo e analisando, uma por uma. Depois, vou jogando lonas em cima dos projetores que estão passando imagens que quero esquecer. Sei que o calor da maquinaria queimará essas lonas, mas até lá o filme já pode estar em outro momento, em um momento talvez mais feliz.

Encontro uma Super 8 jogada no chão. Já é o bastante. Através dela, posso projetar meu novo mundo. Criar e realizar novas imagens que serão a realidade para mim. Seja essa realidade em película ou digital. É o que eu devo tentar, é o que eu devo fazer, ou morrer tentando. Não sou sobrinho de ministro. Não sou herdeiro de nada ou de ninguém... Apenas é o que me move para fora. O que me faz acordar.

Parece ser a melhor saída.
A saída de dentro do meu cérebro.
A saída como solução provisório-permanente do problema.