sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Auto-enclausuramento

Cada vez mais, percebo ter medo de estar enclausurado.

Troco de casa, crio ambientes, mas daí não crio. Viro um procrastinador.

A utopia geográfica de criação se esbarra na noção de quatro paredes chamada de lar.

Invento desculpas para sair. Invento desculpas para não sair.

É incoerência pura.

Vejo exemplos que pretendo seguir e estou sempre em xeque comigo mesmo.

Por que não sair? Por que não deixar as coisas para depois?

Necessidade de conhecer pessoas, necessidade de conhecer coisas novas, de explorar o inexplorado.

Essa constante insatisfação me faz pensar em estar fora em todo o momento. Fora de mim, fora daqui, fora de lá.

Fechado entre quatro paredes, sozinho, tenho tanto tempo para mim mesmo que me assusto com o eco das minhas idéias. O foco acaba constantemente desfocado.

Até uma certa sexta-feira 13, data cabalística, preciso me concentrar na minha clausura. Preciso aceitar estar trancado comigo mesmo. Uma pessoa, deveras intragável, que eu tenho que aprender a conviver.

Chega de correr de mim mesmo.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

J-lo, Marie Claire e Johnny Depp

Não querendo me justificar, mas já me justificando, confesso: não consegui escrever sobre futebol. Não que eu tenha dedicado cem por cento do meu tempo. Fiz até o dever de casa. Assisti partidas, freqüentei bares, joguei até Winning Eleven, mas não surgiu uma real inspiração.

Para piorar ainda mais a minha situação, hoje, no consultório médico, durante uma demorada espera, me pego folheando a Marie Claire e lendo uma reportagem sobre os quarenta e poucos anos do galã Johnny Depp.

Mesmo com poucas opções no revisteiro do consultório, sei que deveria lido a revista o mais escondido possível, sei que não deveria nunca estar escrevendo sobre o fato, quanto mais publicando-o, porém, o que realmente chamou a minha atenção foi o artigo ser assinado por João Luiz Vieira!

Na hora eu fiquei boquiaberto.

Apontei para a pessoa mais próxima e disse: “Ele já foi meu professor”. A reação de negação fez com que eu percebesse que estavam achando que eu falara do Johnny Depp. Após breves explicações e tudo esclarecido, ficava ainda a dúvida pessoal.

Será o mesmo João Luiz Vieira, vulgarmente conhecido pelos alunos como J-lo, grande nome da pesquisa em Cinema no Brasil?

O ecletismo em relação aos filmes é uma marca registrada desse pesquisador e professor. Enquanto alguns professores e alunos buscam um intelectualismo que não abre espaço para as grandes produções de Hollywood, João Luiz Vieira é um assíduo freqüentador de cinemas.

O artigo citava a participação de Depp em filmes com personagens de mentes tão conturbadas como Edward Mãos de Tesoura, Piratas do Caribe e Sweeney Todd. Entretanto, a real pauta do artigo era o fato do ator atingir o posto de galã, aos quarenta e alguma coisa, mesmo fazendo estes papéis tão controversos. Inclusive havia a menção da estréia do novo filme, Inimigos Públicos (sei que o filme já estreou, mas é um consultório médico, a revista pode ser considerada até nova, já que data apenas de julho deste ano) que retratando um gangster estadunidense, retrataria um pouco do passado familiar de Depp.

No fundo, no fundo, o artigo servia mais para ilustrar uma foto gigante da estrela hollywoodiana do que informar ou discutir algum assunto. Não era a linha narrativa de um pesquisador conceituado em Cinema. Porém, dava para reconhecer algumas palavras saindo da boca do próprio J-lo. A dúvida era realmente tremenda.

Chegando em casa, procuro o artigo pela Internet e nada. Converso com os amigos perguntando se sabem de algum outro jornalista ou pesquisador homônimo e não consigo nenhum resultado positivo. Ao contrário, alguns inclusive achavam normal que J-lo assinasse um artigo na Marie Claire.

Após mais algumas buscas, descubro que na verdade é um outro João Luiz Vieira que escreve na revista. Este é jornalista, pernambucano, criado em São Paulo, que escreve sobre variedades.

É J-lo, andam roubando seu nome e seu estilo...

segunda-feira, 2 de março de 2009

Apenas uma autobiografia... ou Editorial número 1

Ao tentar exercitar a minha catarse semanal, às vezes quinzenal, usualmente mensal, esbarrei na dificuldade em tentar escrever algo que não remetesse a mim mesmo. E esse bloqueio, essa censura, não foi um empecilho criativo, mas aconteceu devido a um telefonema que recebi há poucos dias.

Estava eu, muito sossegado em casa, curtindo o calor do Rio ao lado de um ventilador, quando de repente toca o telefone. Era da produção de um programa de televisão. Estavam me chamando para falar sobre o meu blog. Uau! Seria o reconhecimento da quase solitária tarefa de escrever em um país em que poucos lêem? Seria a tentativa de se cumprir uma necessidade de produção e arranjar qualquer autor de blog que tivesse a cara de pau de falar ao ar?

Essas questões pouco importaram, já que era a oportunidade de divulgar algumas das minhas idéias. Porém, quando estava escrevendo dois textos para publicar, recebo o seguinte e-mail, contendo a pauta do programa:

“Como falar de si mesmo? Nas entrevistas de emprego ou nas definições de orkut as pessoas falam como se vêem. Tem pessoas que escrevem autobiografia, outros escrevem blogs falando de si, já outros tem uma tremenda dificuldade de falar de si mesmas.”

Se por um lado o que eu faço não é um diário, por outro lado, realmente, não há como negar o seu teor autobiográfico. O fugindo da história, com todas as suas inconsistências, não deixa de ser uma experiência catártica, um lugar onde, diferente do que acontece quando me aventuro na dramaturgia, posso criar sem me preocupar com quase nada. A não ser um mínimo de inteligibilidade, é claro. E, levando também em conta que a maioria dos meus escritos, incluindo um vídeo de auto-retrato, diz muito sobre a minha pessoa, quem lê, consegue me decifrar nem que seja em uma pequena parte. No fundo seria uma espécie de biografia com tons tropicalistas e aventuras poéticas, onde abro a possibilidade para diversas interpretações e questões existenciais de botequim.

Porém, escrever sobre a minha pessoa não é uma preocupação de pauta. Não é um fim.

Ao criar o blog, com o seu nome que remete a um momento específico de transição da minha vida, o objetivo era a catarse. Poder falar sobre qualquer tema, transcender as regras acadêmicas, a moral e os bons costumes da escrita. Sem censuras, sem regras, sem empecilhos, sem revisão ortográfica... E, justo agora, quando consigo um certo reconhecimento, é justamente o fato de eu ser reconhecido que me cerceia!

Foi preciso essa espécie de editorial tardio, ou talvez uma auto-análise, para saber se realmente vale a pena continuar com tudo ou mandar pararem as prensas. Para definir, principalmente para mim mesmo, que escrevo o que eu quero, há de ser tudo da lei. Não, não farei apenas autobiografia e nem desejo ser reconhecido só por isso.

De uma forma geral, não gostei de ter que escrever o que está impresso acima, queria ter escrito outras coisas, um conto talvez. Maldita necessidade de me justificar. Só de sacanagem, eu que não sei jogar bola, no próximo post vou falar sobre futebol...

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Carnaval com elas

Com a iminência do carnaval, não me vejo programando quais blocos pular, mas sim relembrando carnavais passados. É um saudosismo de tempos recentes, onde os carnavais se misturam, ambientados no Rio de Janeiro, havendo diferenciação apenas pelas mulheres com que passei. Engraçado escrever isso assim tão próximo. Escrever no passado algo tão recente.

Diferente do que parece, não foram tantas assim, pelo contrário. Se não consigo me recordar corretamente há quantos carnavais passo no Rio, sei que estive ao lado de apenas duas mulheres, nesses três ou quatro anos. Não é um saudosismo carnal, o som do tamborim se confunde com os belos momentos que essas duas mulheres me proporcionaram.

A primeira teve a mesma descoberta que eu. Acostumado a sempre viajar nesse período, às vezes tentando se esconder, pular tão próximo de casa levou a novas sensações. Éramos dois freqüentadores de shows de rock, perdidos e descobrindo uma nova diversidade oriunda do samba. Se bem que rememorando esse primeiro carnaval, lembro que fomos parar em uma festa eletrônica e também em um bar de salsa. Coisas do Rio.

Após alguns carnavais misturados em minha cabeça, válido dizer que acompanhado pela mesma pessoa, entre bondinhos de Santa Tereza e voltas nas barcas rumo a Niterói, chego ao ano passado. Este foi ao lado de uma exímia especialista em samba. Mesmo com a pele tão clara e os olhos verdes, foi como passar o carnaval ao lado da velha guarda da Mangueira. O samba pra ela não é algo vendido nos pacotes turísticos. Faz parte da vida. A programação dos blocos era guardada de cabeça e havia um prazer real em participar dessa festa tão popular. Seu sorriso era visto ao longe, pois era a oportunidade de viver o samba intensamente. Desculpe a outra, mas foi o carnaval mais legítimo e prazeroso de toda a minha vida.

Faltando apenas um dia para o que considero o real início do carnaval, o saudosismo praticamente me derruba. Não tenho paciência para saber o horário dos blocos. Fico com preguiça de procurar alguma programação alternativa. Não me animo sequer com a possibilidade da promiscuidade permitida e legitimada durante esses poucos dias do ano.

É, o carnaval não terá a mesma graça sem elas...

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Triste Bahia

Tentei escrever um texto simples sobre a Bahia, não deu.
A complexidade de Salvador não caberia em um relato conexo.
Não, Salvador não é nada simples.
Triste Bahia.

Saí do Rio de Janeiro e fui pra Bahia.
Cheguei na Bahia e vi o Rio de Janeiro.
Voltei da Bahia e vi o Rio de Janeiro.
Semelhante Bahia.

Em Salvador, vi a beleza de uma cidade histórica.
Belos locais e belas praias, as quais quero retornar.
Um povo de grande cultura, de grande identidade.
Bahia, Brasil, Bahia.

Em Salvador se escondia também a pobreza.
A pobreza enfeava a beleza?
A beleza deveria esconder a pobreza?
Desigual Bahia.

Lugares proibidos, para onde o povo foi varrido.
Lugares onde a pobreza se esconde.
Lugares que as autoridades não querem mostrar.
Esquecida Bahia.

Uma cidade com uma efervescência cultural estonteante.
Uma cidade com desigualdades que não estão em cartão postal.
Triste Rio de Janeiro.
Triste Bahia.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Farsante profissional

Em meio a um início de ano cheio de planos, buscas por conquistas profissionais e pessoais, tenho uma intrigante constatação ao invadir a cozinha de madrugada: eu sou uma farsa!

Para alguns, vivo em um mundo criado, um mundo idealizado, não real. Não que eu não me considere como os outros habitantes do terceiro planeta do sistema solar, contudo, segundo as más línguas, às vezes minha cabeça está ao redor do nosso satélite natural, chegando até mesmo ao nono corpo celeste, seja ele um planeta ou não. Melhor dizendo, não tenho noção da realidade.

Já que a característica principal da minha pessoa já foi definida por terceiros, em um tom de auto-análise totalmente freudiana busco a definição de farsa no Aurélio:

Farsa (substantivo feminino). 1. Peça cômica de um só ato e ação burlesca. 2. Logro, embuste.

Continuando na busca e seguindo os preceitos de Freud, descubro também que embuste significa mentira artificiosa, logro e que logro, remete a trapaça e ao ato e efeito de lograr, ou seja, gozar ou até mesmo produzir o resultado que se esperava.

Grande Aurélio, com seu conhecimento quase infinito sobre a língua portuguesa.

Analisando os conceitos, e assim decifrando-me, entendo primeiramente que a minha vida daria uma peça cômica. Até aí tudo normal. Colocando na balança erros e acertos, cada um tem seus momentos trágicos e alegres. Faz parte do cotidiano. Faz parte de quem se arrisca.

Agora vem a parte difícil, pois tenho que justificar o meu lado logro, o meu lado embuste. É uma característica ruim. Me afasta dos demais, dos bem sucedidos, que têm um objetivo planejado na vida.
Porém, se à primeira vista, não tenho muita salvação, percebo que a mentira é um caso de escolha. Por um certo dom, tenho a profissão do mentiroso, do trapaceiro. Por vontade própria escolhi a Arte como ganha pão.

Ao escrever, através de ardilosos artifícios, busco a mentira, busco desviar a atenção do leitor ou do público, logro, mas levo ao êxtase. Posso assim ludibriar, zombar, gozar e ser aplaudido ao fazê-lo.
Bendito ofício do escritor, que possibilita brincar com sentimentos catárticos, que permite gerar o riso, a raiva ou o choro dos demais, tratando a todos como títeres e mesmo assim alcançar os céus.

Releio o que escrevi acima e me pergunto se não está um texto confuso, algo difícil de entender a uma primeira leitura. Porém, não seria uma auto-decifração se não fosse ininteligível, que mesmo assim, faz todo um sentido para mim.

Sim, sou uma farsa, mas uma farsa consciente dos meus atos, mesmo quando burlesco aos olhos alheios. Sou um farsante profissional e vivo muito bem com isso.