quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Farsante profissional

Em meio a um início de ano cheio de planos, buscas por conquistas profissionais e pessoais, tenho uma intrigante constatação ao invadir a cozinha de madrugada: eu sou uma farsa!

Para alguns, vivo em um mundo criado, um mundo idealizado, não real. Não que eu não me considere como os outros habitantes do terceiro planeta do sistema solar, contudo, segundo as más línguas, às vezes minha cabeça está ao redor do nosso satélite natural, chegando até mesmo ao nono corpo celeste, seja ele um planeta ou não. Melhor dizendo, não tenho noção da realidade.

Já que a característica principal da minha pessoa já foi definida por terceiros, em um tom de auto-análise totalmente freudiana busco a definição de farsa no Aurélio:

Farsa (substantivo feminino). 1. Peça cômica de um só ato e ação burlesca. 2. Logro, embuste.

Continuando na busca e seguindo os preceitos de Freud, descubro também que embuste significa mentira artificiosa, logro e que logro, remete a trapaça e ao ato e efeito de lograr, ou seja, gozar ou até mesmo produzir o resultado que se esperava.

Grande Aurélio, com seu conhecimento quase infinito sobre a língua portuguesa.

Analisando os conceitos, e assim decifrando-me, entendo primeiramente que a minha vida daria uma peça cômica. Até aí tudo normal. Colocando na balança erros e acertos, cada um tem seus momentos trágicos e alegres. Faz parte do cotidiano. Faz parte de quem se arrisca.

Agora vem a parte difícil, pois tenho que justificar o meu lado logro, o meu lado embuste. É uma característica ruim. Me afasta dos demais, dos bem sucedidos, que têm um objetivo planejado na vida.
Porém, se à primeira vista, não tenho muita salvação, percebo que a mentira é um caso de escolha. Por um certo dom, tenho a profissão do mentiroso, do trapaceiro. Por vontade própria escolhi a Arte como ganha pão.

Ao escrever, através de ardilosos artifícios, busco a mentira, busco desviar a atenção do leitor ou do público, logro, mas levo ao êxtase. Posso assim ludibriar, zombar, gozar e ser aplaudido ao fazê-lo.
Bendito ofício do escritor, que possibilita brincar com sentimentos catárticos, que permite gerar o riso, a raiva ou o choro dos demais, tratando a todos como títeres e mesmo assim alcançar os céus.

Releio o que escrevi acima e me pergunto se não está um texto confuso, algo difícil de entender a uma primeira leitura. Porém, não seria uma auto-decifração se não fosse ininteligível, que mesmo assim, faz todo um sentido para mim.

Sim, sou uma farsa, mas uma farsa consciente dos meus atos, mesmo quando burlesco aos olhos alheios. Sou um farsante profissional e vivo muito bem com isso.