segunda-feira, 2 de março de 2009

Apenas uma autobiografia... ou Editorial número 1

Ao tentar exercitar a minha catarse semanal, às vezes quinzenal, usualmente mensal, esbarrei na dificuldade em tentar escrever algo que não remetesse a mim mesmo. E esse bloqueio, essa censura, não foi um empecilho criativo, mas aconteceu devido a um telefonema que recebi há poucos dias.

Estava eu, muito sossegado em casa, curtindo o calor do Rio ao lado de um ventilador, quando de repente toca o telefone. Era da produção de um programa de televisão. Estavam me chamando para falar sobre o meu blog. Uau! Seria o reconhecimento da quase solitária tarefa de escrever em um país em que poucos lêem? Seria a tentativa de se cumprir uma necessidade de produção e arranjar qualquer autor de blog que tivesse a cara de pau de falar ao ar?

Essas questões pouco importaram, já que era a oportunidade de divulgar algumas das minhas idéias. Porém, quando estava escrevendo dois textos para publicar, recebo o seguinte e-mail, contendo a pauta do programa:

“Como falar de si mesmo? Nas entrevistas de emprego ou nas definições de orkut as pessoas falam como se vêem. Tem pessoas que escrevem autobiografia, outros escrevem blogs falando de si, já outros tem uma tremenda dificuldade de falar de si mesmas.”

Se por um lado o que eu faço não é um diário, por outro lado, realmente, não há como negar o seu teor autobiográfico. O fugindo da história, com todas as suas inconsistências, não deixa de ser uma experiência catártica, um lugar onde, diferente do que acontece quando me aventuro na dramaturgia, posso criar sem me preocupar com quase nada. A não ser um mínimo de inteligibilidade, é claro. E, levando também em conta que a maioria dos meus escritos, incluindo um vídeo de auto-retrato, diz muito sobre a minha pessoa, quem lê, consegue me decifrar nem que seja em uma pequena parte. No fundo seria uma espécie de biografia com tons tropicalistas e aventuras poéticas, onde abro a possibilidade para diversas interpretações e questões existenciais de botequim.

Porém, escrever sobre a minha pessoa não é uma preocupação de pauta. Não é um fim.

Ao criar o blog, com o seu nome que remete a um momento específico de transição da minha vida, o objetivo era a catarse. Poder falar sobre qualquer tema, transcender as regras acadêmicas, a moral e os bons costumes da escrita. Sem censuras, sem regras, sem empecilhos, sem revisão ortográfica... E, justo agora, quando consigo um certo reconhecimento, é justamente o fato de eu ser reconhecido que me cerceia!

Foi preciso essa espécie de editorial tardio, ou talvez uma auto-análise, para saber se realmente vale a pena continuar com tudo ou mandar pararem as prensas. Para definir, principalmente para mim mesmo, que escrevo o que eu quero, há de ser tudo da lei. Não, não farei apenas autobiografia e nem desejo ser reconhecido só por isso.

De uma forma geral, não gostei de ter que escrever o que está impresso acima, queria ter escrito outras coisas, um conto talvez. Maldita necessidade de me justificar. Só de sacanagem, eu que não sei jogar bola, no próximo post vou falar sobre futebol...