terça-feira, 6 de abril de 2010

Feriado do caos

Rio de Janeiro dia 5 para o dia 6 de julho de 2010.

Sim, este post é extremamente datado. Quase um relatório do que vi de ontem para hoje. Os temporais, que antes pertenciam somente a São Paulo, chegam ao Rio de Janeiro.

Dezenove horas, começa uma chuva assustadora. Da janela do meu quarto percebo que a avenida que eu moro começa a perder as calçadas, aos poucos não há mais definição do que é rua e do que não é. Diga-se de passagem, não estou falando de uma rua, mas sim de uma avenida, algo que cabe tantos carros e não deveria nunca alagar.

O barulho da chuva no toldo avisa que a quantidade de água caindo e se mantendo nas ruas só tende a aumentar.

Vinte horas, decido por não sair de casa para uma aula. Não tenho barco. Os poucos carros que estão na rua procuram lugares altos para se protegerem tal como os animais em dias de temporal. Da minha árvore mais alta os observo com uma mistura de pena e alívio. Não queria estar no lugar deles.

Vinte e duas horas, nada da chuva melhorar. Aproveito para ler, ler muito. Estou municiado com uma lanterna e velas caso a luz resolva findar. Ela pisca, oscila, mas heroicamente sobreviveu a noite toda.

Meia-noite, continuo estudando. Mesmo com o toldo como “chuvômetro”, dou uma espiadela pela janela e vejo que a água não baixou, pelo contrário. Um carro, um golzinho, está na contramão completamente ilhado. Penso se o dono já abandonou o veículo ou se resolveu ficar por lá mesmo, torcendo para que a água não entre paulatinamente, uma espécie de Titanic em menor escala.

Duas horas da manhã, sim, eu durmo tarde e, às vezes, acordo cedo, termino minha leitura e ainda sem sono resolvo organizar coisas. Novamente ao olhar pela janela vejo o mesmo golzinho, símbolo do caos que está o Rio de Janeiro. A luz, finalmente, começa a se apresentar como uma ameaça aos meus eletroeletrônicos. Tiro tudo da tomada e vou tomar um banho para dormir.

Sete e pouca da manhã, acordo e olho pela janela. O mesmo golzinho na contramão ainda está lá. Descaso do dono? Talvez não, pois o pequeno Titanic ainda está ilhado. E o pouco de calçada que dá para se enxergar é só lama e sujeira.

Começam então os emails e as notícias para que a população fique em casa. Três aulas canceladas apenas hoje. Canceladas, quase que por recomendação da Defesa Civil.

Também por recomendação do Estado, volto a dormir, hoje é feriado. Acordo novamente às dez e vejo que o golzinho finalmente sumiu. As coisas estão melhorando, mas feriado decretado é feriado obedecido. Dificilmente sairei de casa. Esse é o feriado carioca, às vezes feriado decretado por traficantes, às vezes feriado decretado pelo Estado, e agora decretado pelo caos.