sábado, 22 de maio de 2010

Um dia estranho

Escrevo e apago. Ouvir Bitches Brew do Miles Davis não está ajudando a criar uma progressão, portanto opto pela errância.

Um dia normal, um dia estranho.

Reflito e vejo que o aparentemente normal tinha um quê de anormalidade. Em determinado momento me senti um ser deslocado em meio a containers que chegaram do céu. Conhecia todos, mas não me comunicava com ninguém.

Os compromissos foram progressivamente ticados da agenda, alguns inclusive já pré-marcados para o dia seguinte.

A calma só vinha através da criação. Estranhamente organizada e necessária.

Contudo, com o início da noite o pensamento se voltou para a noite em si. Sexta-feira. Falta de opção não havia, porém também não havia a vontade.

Saio por insistência. Minha racionalidade geográfica me fez escolher o local mais próximo de casa. A saída e o retorno eram extremamente facilitados. Vários pontos de fuga.

A opção também implicava estar na companhia de amigos que me juntaram a outros amigos. Algo agradabilíssimo. Contudo, algo continuava errado, não houve ambientação possível. A agitação e os cheiros incomodavam. O ambiente sufocava. Precisava de ar.

A despedida foi quase na surdida ao mesmo tempo que buscava um anonimato para uma possível fuga.

A vontade era voltar para casa, escrever, exercer o meu direito de verborragia descontrolada e sem parâmetros. Se às vezes estar comigo mesmo é algo problemático, às vezes é uma necessidade.

Um dia estranho, ainda estranho. Ainda não terminou. Só o termino porque resolvo parar de escrever. O sono me impede de ser claro e inteligível. Ponto final.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

A solidão de um domingo à tarde

Acordo hoje com uma espécie de sentimento de solidão. Não um sozinho em relação a um futuro distante, mas uma espécie de temor de se estar só, da solidão diária. A contradição é que tenho o que fazer, socialmente, academicamente, fisicalmente, mas esse sentimento, esse vazio é algo que me ata.

Um impulso que me faz ficar em casa. É algo que me prende, que me obriga. E que geralmente acontece em determinados finais de semana.

Ouço crianças brincando, suas vozes vêm da janela. Penso em aparecer e me apresentar. Entretanto, olho pela janela, mas não vejo nada. Apenas escuto o que talvez sejam os ecos da minha infância.

Há vários ruídos externos, passos que são dados acima da minha cabeça, risadas que vêm de fora. No entanto continuo só. Deixo a televisão ligada para ter companhia. É um filme digno de Sessão da Tarde em pleno domingo. Já o tinha visto antes. Quase como estar com um velho amigo, que conta a mesma história já contatada e que ao final me rouba um sorriso. Espero até o seu término para tirar um novo cochilo.

Talvez dormir me impeça de perceber o vazio. Quando acordo já é noite.

Penso em ligar para alguém, navego pela agenda do celular. Vislumbro várias opções, mas não tenho vontade. Não quero ficar sozinho, mas parece que me sujeito a isso por vontade própria. Faço apenas um telefonema de pelo menos dois programados e só consigo ser sucinto. Hoje é dia de conviver comigo mesmo.

Vagueio pelos quartos. Busco o que fazer, busco alguém, mas não há ninguém além de mim. A campainha toca. De início fico irritado, pois não estava esperando companhia, mas depois me desaponto por perceber que não era a minha campainha, mas sim a do vizinho.

Estou perto da porta. Sair seria uma solução, vagar por aí. Sem rumo. Buscando encontrar alguém na rua. Sabendo onde encontrar algum amigo que mora próximo. A ausência do Sol me incomodaria, a noite me incomodaria, encontrar alguém me incomodaria. O apartamento mesmo pequeno parece grande demais. Talvez sejam os poucos móveis. O pé direito é inatingível, mesmo tocando-o com um pulo. Não consigo alcançar a porta.

Tomo um banho já de noite e finalmente o dia parece começar.

Decido estar online. Distância que me permite falar, sem ser ouvido, apenas lido. Escrevo e leio por pelo menos uma hora, nada produtivo, mas tudo produtivo. Descubro um blog de um amigo. Leio alguns de seus textos. Intuitivos. Ando preso em tantas amarras que esqueço que esse era o meu principal objetivo.

Resolvo escrever, como antigamente, sem compromissos, sem formalismos. Apenas pensamentos fluindo em forma de uma prosa quase poética. De uma escrita sem forma encontrada e sem forma objetivada. Algo rápido, sem muita revisão. Com erros que se transformam em acertos.

Enfim, escrevo. Já posso dormir tranqüilo agora. O dia não foi tão vazio, afinal.