sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Auto-enclausuramento

Cada vez mais, percebo ter medo de estar enclausurado.

Troco de casa, crio ambientes, mas daí não crio. Viro um procrastinador.

A utopia geográfica de criação se esbarra na noção de quatro paredes chamada de lar.

Invento desculpas para sair. Invento desculpas para não sair.

É incoerência pura.

Vejo exemplos que pretendo seguir e estou sempre em xeque comigo mesmo.

Por que não sair? Por que não deixar as coisas para depois?

Necessidade de conhecer pessoas, necessidade de conhecer coisas novas, de explorar o inexplorado.

Essa constante insatisfação me faz pensar em estar fora em todo o momento. Fora de mim, fora daqui, fora de lá.

Fechado entre quatro paredes, sozinho, tenho tanto tempo para mim mesmo que me assusto com o eco das minhas idéias. O foco acaba constantemente desfocado.

Até uma certa sexta-feira 13, data cabalística, preciso me concentrar na minha clausura. Preciso aceitar estar trancado comigo mesmo. Uma pessoa, deveras intragável, que eu tenho que aprender a conviver.

Chega de correr de mim mesmo.

4 comentários:

Anônimo disse...

Até que ponto estar sozinho, no silêncio, permite ouvir os ecos do seus "eus" internos querendo se fazer conhecidos? É insano dizer que a busca do enclausuramento é vil; porém mais insano ainda é acreditar que ao sair desse estado tudo estará claro, compreensível. Não alimente em sua alma nenhum ideal, alimente apenas o desejo de entender como uma transição que se transforma a partir de acontecimentos previsiveis ou não, compreensíveis ou não. Construa-se a cada dia através do outro, e permita que o outro se construa através de você.

Anônimo disse...

Coerência não é algo que eu veja muito por aí. Acho que rola uma certa escassez... =)
Eu mesma sofro deste 'mal' - a incoerência.
Ainda bem.
Os objetivos demasiadamente definidos e estritos parecem às vezes - perdão pela expressão psicanalítica - um tanto castradores.
E posso estar enganada, mas acho que a rima criação/castração não é lá das mais ricas.
Um pouco de disciplina faz muito bem, sou uma grande fã, mas fiquei um pouco apreensiva pelo seu uso do termo 'clausura'.
Precisa mesmo? Se for realmente o caso, boa sorte.

Talvez a coerência não seja muito mais do que do que uma combinação mais ou menos dosada de leveza e direção.
Um exercício consciente da sua própria liberdade de escolha.
[Não vou entrar em méritos do inconsciente agora, mas é estar enclausurado é o que você deseja? rs]

Beijos,

Rita

Ps: Sorry pelo comentário intrometido, mas acho que são vicissitudes do espaço virtual, né? ;)

Unknown disse...

Gostei do seu estilo de escrita, mesmo.
Mas sobre o que escreveu, numa leitura rápida por olhos cansados escutei alguém que, malgrado seus dedos apontassem numa direção, minha visão repousou em outra que difere do quadro no texto por ti pintado. Aquela outra imagem que me vi enxergando, e aqui faço uma ressalva que não pretendo extrair nada para rotular como verdades, pois acredito que uma verdade se mantém até esbarrar noutra mentira mais convincente, é de alguém que grita para não escutar o que por si já lhe é dito e só se fecha pois as paredes são suas amigas em barrar outras vozes. Quero dizer que mesmo se sair a solidão continuará lhe seguindo e, o claustro dentro de si persistirá enquanto o grito da negação for maior que a vontade de se calar e não pensar em nada, para que com isso se possa se escutar um pouco. Mas gostei de clique em clique vir parar aqui, gostei da sua escrita, quem sabe, um dia, aprenderei a escrever frases curtas mas tão sonoras quanto as suas? Abs!

luiz giban disse...

ótimo perceber que o período de enclausuramento gerou ótimas questões de leitores e também ótimo fruto de realização pessoal.
agradeço a todos por lerem e a mim mesmo pela paciência por estar comigo mesmo.