domingo, 12 de agosto de 2007

Papai eu estou na cadeia

Papai eu estou na cadeia.
Eu gosto daqui.

É confortável.
Tenho cama, cobertores...
Me impedem de ferir as pessoas.
Me dão livros para ler.

Papai eu estou na cadeia.
Eu gosto daqui.

Como arroz e feijão todos os dias.
Ao mesmo tempo em que ninguém é culpado,
Todos são culpados por alguma coisa.
Estou entre meus iguais.

Papai eu estou na cadeia.
Eu gosto daqui.

Qual será o meu crime?
Hipocrisia? Mesquinharia? Cinismo? Já não lembro.
Não importa mais.
A sociedade já cuidou de mim.

Papai eu estou na cadeia.
Eu gosto daqui.

Ao invés de estudar, optei por puxar carros como o senhor sempre pediu.
Era o orgulho do senhor, eu era considerado “águia”.
Tornei-me bem visto na família.
Tal pai, tal filho.

Papai eu estou na cadeia.
Eu gosto daqui.

Você se safou, tinha advogados já preparados para isso.
Já eu não, não quis defensores pagos e hipócritas.
Encontrei a cadeia como refúgio.
Isolamento. Punição. Justiça. Perdão.

Papai eu estou na cadeia.
Eu gosto daqui.

Ninguém mexe comigo.
A maioria tem medo de mim.
Se assustam com meus remédios, com meus acessos de raiva.
Finalmente encontrei meu lar.

Papai eu estou na cadeia.
Eu gosto daqui.

Estou sozinho em minha cela.
Para proteção dos outros, meu banho de sol também é separado.
Recebo livros, filmes e cadernos para escrever...
As meninas de branco são todas minhas amigas.

Papai eu estou na cadeia.
Eu gosto daqui.

As paredes acolchoadas e brancas me passam calma.
Uma calma de espírito que não tenho há tempos.
Me fazem refletir sobre a vida...
Sobre a morte.

Papai eu estou na cadeia.
Eu gosto daqui.

* texto baseado numa animação antiga do “Liquid Television”...

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